BioGeogilde Weblog

Blog de apoio e complemento às aulas de Ciências Naturais, Biologia Geologia e Biologia

Quando uma decisão-relâmpago é a melhor opção… e pensar não adianta 28 de Março de 2013

Thinking-ManNós, humanos, acreditamos que o facto de ter tempo para pensar permite tomar decisões mais certas. E se isso fosse apenas um preconceito e o cérebro se baseasse muito mais na nossa intuição do que imaginamos?

“Quando vou ao restaurante, demoro imenso a escolher o que vou comer. Não consigo fazer de outra maneira, mas não tenho a certeza de que essa deliberação me permita desfrutar mais da refeição do que se tivesse escolhido outro prato.” Foi com este exemplo da sua vida quotidiana que Zach Mainen, director do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, em Lisboa, explicou esta quinta-feira ao PÚBLICO os resultados do trabalho que publicou online a revista Neuron.

 O estudo foi liderado por este neurocientista norte-americano no Laboratório de Cold Spring Harbor, nos EUA, antes de ele ter vindo viver para Portugal. Entretanto, já foram obtidos mais resultados cá e outros artigos foram ou deverão ser submetidos para publicação. Mas aquele foi o ponto de partida.

“Muitas vezes, se demorarmos mais tempo, conseguimos melhorar o nosso desempenho”, explica Mainen. Mas há limites: mesmo num exame escolar, após várias horas, isso já não é possível. E, muitas vezes, a melhor decisão pode também consistir em optar sem pensar, intuitivamente. É essa diferença que os cientistas querem elucidar: “Estamos interessados em saber por que algumas decisões parecem beneficiar da atribuição de tempo e outras não; por que é que algumas decisões exigem mais tempo e outras menos. É algo que tem sido pouco estudado.” (more…)

 

Nascemos para a música 19 de Março de 2013

ng1335705_435x200Os sons musicais seduzem-nos e agem sobre nós como uma droga. A relação entre a música e o cérebro é complexa e vai ser estudada em Maio, num simpósio em Lisboa.

Há meia dúzia de anos, a brasileira Lovefoxxx (nome de guerra de Luísa Matsushita), da banda Cansei de Ser Sexy, declarava: «From all the drugs the one I like more is music [de todas as drogas, a música é a de que eu gosto mais]». Esta canção foi um dos grandes êxitos da banda de São Paulo, que teve fama mundial e existência efémera. E nem por acaso se chamava ‘Music is my hot hot sex’.

E não é que tinha razão? Em laboratório, Robert Zatorre, da Universidade McGill (Canadá), já demonstrou que a música chega ao nosso cérebro como uma droga. A culpa é da dopamina, diz o investigador canadiano. É através da libertação desta substância que se produzem, no cérebro, sensações gratificantes, agradáveis, como as causadas por uma boa refeição ou até por drogas psicoactivas. Isso mesmo, drogas. E tal como elas – e aqui entra a parte da intuição científica de Lovefoxxx – pode causar ‘dependência’.

O tema já é estudado há anos e será um de muitos a abordar num simpósio que se vai realizar em Lisboa a 25 de Maio, ‘Music, Poetry and the Brain’ (a Música, a Poesia e o Cérebro, o programa pode ser consultado em http://www.musicpoetrybraim.com), na reitoria da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Entre os coordenadores do programa estão o próprio Zatorre e Armando Sena, da Faculdade de Ciências Médicas da UNL. Além deles – Sena apresenta a comunicação ‘Wagner e a Ciência’, a propósito do pensamento do compositor alemão sobre a música e a sua relação com a poesia – poderemos contar, por exemplo, com António Damásio e grandes investigadores da neurociência da música, como Daniele Schön ou Timothy Griffiths, entre outros. (more…)

 

Cientistas revelam a surpreendente simplicidade da geometria cerebral 30 de Março de 2012

Resultados publicados esta sexta-feira na Science – O cérebro humano é o objecto mais complexo que conhecemos, mas a organização das suas ligações nervosas é das coisas mais simples que se possa imaginar.

Basta olhar para a imagem que ilustra esta notícia para perceber do que se trata. Elas revelam que, ao contrário do que se poderia pensar, a arquitectura das ligações nervosas no cérebro não tem nada a ver com um emaranhado sem nexo de esparguete — e tudo a ver com a malha, muito bem organizada e estruturada, de um tecido acabado de sair do tear. Esta sexta-feira, na revista Science, Van Wedeen, da Universidade de Harvard, e colegas publicam estas espectaculares visualizações do cérebro (humano e de vários primatas) e explicam como chegaram à surpreendente conclusão de que a arquitectura dos circuitos nervosos, que define a geometria subjacente do cérebro adulto, é uma simples retícula 3D, com todas as fibras projectadas pelos neurónios a entrecruzarem-se em ângulo recto numa das três dimensões do espaço.

“O nosso objectivo era mapear a arquitectura das fibras cerebrais”, explica Wedeen num podcast no site da revista. “Dada uma ligação, por onde é que ela passa na sua vizinhança imediata? Descobrimos que essa organização não podia ser mais simples.” As fibras formam superfícies curvas onde pacotes de fibras paralelas (more…)

 

Parasita consegue “manipular” o comportamento de ratinhos 15 de Março de 2012

Quando os ratinhos, que têm naturalmente muito medo dos felinos, têm cistos no cérebro devido a uma infecção crónica pelo parasita Toxoplasma gondii, começam a andar mais depressa e durante mais tempo… e o medo de serem caçados diminui. Este autêntico jogo do gato e do rato virado do avesso – e cujos cordelinhos são literalmente puxados por um microorganismo – foi agora revelado por Cristina Afonso e Vítor Paixão, da Fundação Champalimaud, e foi nesta quarta-feira à noite publicado online na revista de livre acesso PLoS ONE.

O Toxoplasma é um protozoário capaz de infectar todos os mamíferos, mas cujo hospedeiro final são os felinos, onde se reproduz de forma sexuada (nos roedores, hospedeiros intermédios, reproduz-se por clonagem). Ora, se os ratinhos se tornarem mais aventureiros, os gatos apanham-nos mais facilmente, aumentando as chances de o parasita conseguir infectar o seu hospedeiro final.
A infecção no ratinho começa com uma fase aguda, durante a qual o animal perde muito peso, e a seguir torna-se crónica, com o parasita a formar pequenas bolsas, ou cistos, cerebrais. Já se suspeitava que, estando alojado no cérebro, o parasita pudesse induzir alterações comportamentais nos roedores. Por exemplo, observações de laboratório sugeriam que os ratinhos infectados, em vez de fugirem a sete pés do cheiro a gato, se tornavam indiferentes a ele e até podiam achá-lo “interessante” porque activava áreas cerebrais associadas, como o prazer sexual. “Como se pensassem, ‘espera lá, isto não é um predador, é uma fêmea!’”, diz-nos Cristina Afonso em conversa telefónica. (more…)

 

Como o pénis perdeu as espinhas e o que mudou por isso 10 de Março de 2011

Estudo sobre evolução humana – O que faz com que os seres humanos tenham um aspecto distinto, tão facilmente identificável por outro ser humano? O segredo, estão os cientistas a descobrir, está na regulação da actividade dos genes, tal como um cozinheiro põe mais ou menos pimenta. Hoje, uma equipa relata na revista Nature ter identificado centenas de eventos moleculares com impacto na evolução humana. Entre eles, o que fez com que desaparecessem as espinhas queratinosas do pénis nos humanos.

A equipa de Gill Bejerano e David Kingsley, da Universidade de Stanford (EUA) beneficiou da última década de avanços da sequenciação genómica, que oferece já um leque vasto de espécies cujos genomas podem ser comparados. “A tecnologia permite-nos comparar os genomas de humanos e outros mamíferos e procurar o que nos torna únicos”, comentou Philip Reno, da Universidade da Pensilvânia, um dos autores do trabalho, citado num comunicado. “E podemos relacionar essa informação com características físicas humanas específicas.”

Usando a genómica comparativa, a equipa identificou 510 sequências genéticas muito conservadas em todas as espécies de mamíferos, inclusivamente nos chimpanzés (os nossos parentes mais próximos), mas que estão ausentes no genoma humano. São sequências de ADN que, se forem encaradas como palavras, escrevem instruções regulatórias, que influenciam a actividade dos genes. (more…)

 

O bilinguismo amplia a capacidade perceptiva e adia a demência 23 de Fevereiro de 2011

Um novo idioma é um desfio para o cérebro.

Foram apresentados vários estudos sobre o tema das jornadas «O que nos diz o bilinguismo sobre o nosso cérebro?», organizadas pela Associação Americana para o Avanço nas Ciências (American Association for the Advancement of Science), em Washington, que demonstram que saber duas línguas não gera confusão no cérebro. Pelo contrário, amplia a capacidade perceptiva.

Uma das investigações, realizadas por María Teresa Bajo e Pedro Macizo, da Universidade de Granada, consistiu em medir o tempo de resposta da actividade cerebral perante uma pergunta, dirigida a voluntários que dominavam o espanhol e o inglês de igual forma. Os investigadores verificaram que os bilingues são capazes de activar ambos os idiomas, ao mesmo tempo, mesmo em situações em que apenas necessitem uma língua.
Segundo um comunicado da instituição, o bilinguismo permite melhorar a atenção e a memória das pessoas, já que a treina como se de uma ginástica mental se tratasse. Segundo os avanços da investigadora Nùria Sebastián-Gallés, da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, por exemplo, crianças bilingues, de quatro a oito meses conseguem distinguir entre dois idiomas que não conhecem.

Perante diferentes vídeos, onde se falava francês ou inglês, idiomas desconhecidos no lar onde crescem, os investigadores conseguiram perceber se as crianças distinguiam as línguas, através das expressões faciais dos intervenientes no vídeo. Os cientistas referem que o bilinguismo amplia a capacidade perceptiva do cérebro. (more…)

 

Amor: cria dependência como uma droga, mas sabe bem como o chocolate 14 de Fevereiro de 2011

A maravilhosa máquina cerebral destrói a mitologia do amor? Ainda não, talvez nunca. Mas já se sabe muito: as regiões activadas quando vemos a pessoa de quem gostamos ou os químicos libertados. E é tudo verdade: o estômago apertado, o coração acelerado, o vício, a intensidade do primeiro ano de relação. O amor é a droga. E hoje é Dia dos Namorados.

A base neurológica do amor romântico é o título insosso de um artigo científico publicado em 2000, que se propunha pela primeira vez olhar para o cérebro de 17 pessoas e ver quais as áreas que ficavam luminosas perantefotografias dos seus amados. Os investigadores Andreas Bartels e Semir Zekl, que na altura trabalhavam na University College de Londres, escolheram voluntários que diziam estar “verdadeiramente, profundamente, loucamente apaixonados” por alguém e resolveram submetê-los a uma máquina que forma imagens tridimensionais do cérebro por ressonância magnética.

Os observados eram analisados enquanto viam fotografias dos seus mais-que-tudo que iam passando entre fotografias de amigos do mesmo sexo que o/a companheiro/a. No cérebro, a afluência especial de oxigénio a determinadas regiões era registada pela máquina e denunciava pela primeira vez as redes complexas associadas ao amor e que permitem alguém dizer palavras como “verdadeiramente”, “profundamente” ou “loucamente” num contexto piroso, mas completamente justificável com um “deixa lá, ele/ela está apaixonado/a”. (more…)

 

Estudo confirma que doces podem causar dependência 3 de Fevereiro de 2011

Neurotransmissores que provocam o vício libertados com consumo de açúcar.

O vício em chocolate e noutros doces realmente existe, de acordo com investigadores do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, que procuraram compreender quando e por quê o açúcar pode causar dependência, da mesma forma que o álcool, o tabaco ou outras drogas.

Falk Kiefer, investigador que liderou o estudo que respondeu a estas questões, submeteu um grupo de voluntários com excesso de peso a ressonâncias magnéticas a fim de observar as suas reacções perante a exibição de imagens de doces, bolos e gelados.

Com estes testes, o cientista alemão constatou que as imagens activaram o mecanismo de compensação do cérebro em pessoas expostas às imagens de guloseimas.
Foi observada a libertação de dopamina, um neurotransmissor que estimula o sistema nervoso central e que também é conhecido como a “hormona da felicidade”, visto que proporciona a sensação de bem-estar. Segundo os investigadores, esta reacção é comparável aos efeitos causados pela droga e pelo álcool, cujo consumo também provoca a libertação deste neurotransmissor.

Foram ainda realizados testes com ratos “viciados em açúcar”. Quando privados deste componente, tiveram as mesmas reacções que roedores “alcoólicos” que deixaram de consumir álcool, como tremores, ansiedade e nervosismo. “Os processos que são libertados no mecanismo de compensação pelo açúcar são, de facto, comparáveis com o álcool e a nicotina”, assegurou o investigador Rainer Spanagel. (more…)

 

Importância da cor para reconhecimento de objectos 13 de Dezembro de 2010

Estudo da UAlg revela que cérebro distingue através de processo cromático.

O Grupo de Neurociências Cognitivas da Universidade do Algarve conseguiu observar a importância da cor nos mecanismos cerebrais que permitem reconhecer objectos, com recurso a técnicas de imagiologia de ponta. Este estudo já foi alvo de interesse pela revista científica internacional «The Open Neuroimaging Journal».

 A investigação, liderada por Inês Bramão, partiu do interesse em se conseguir “perceber se o cérebro é capaz de distinguir objectos naturais (como uma rosas) de outros não naturais (um blusa) pela cor e se responde da mesma forma às duas categorias”, explica.

Activação cerebral induzida por objectos a cores (A) e com objectos a preto e branco (B).

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O cérebro de um adulto muda tanto como o de uma criança, quando aprende a ler 14 de Novembro de 2010

Cientistas e voluntários portugueses participaram num estudo internacional inédito sobre os efeitos da leitura no córtex cerebral, comparando analfabetos, leitores e ex-iletrados.

Quando se aprende a ler, é como se uma armada vitoriosa chegasse às costas desprevenidas do nosso cérebro. Muda-o para sempre, conquistando territórios que eram utilizados para processar outros estímulos – para reconhecer faces, por exemplo – e estendendo a sua influência a áreas relacionadas, como o córtex auditivo, para criar a sua própria fortaleza: uma nova zona especializada, a Área da Forma Visual das Palavras. Isto acontece sempre, quer se tenha aprendido a ler aos seis anos ou já na idade adulta.

Esta é uma das conclusões de um estudo internacional publicado hoje na edição online da revista Science, em que participaram cientistas portugueses – e voluntários portugueses também, pessoas que aprenderam a ler já tarde na vida.
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